Um batismo campeão: a trajetória da Gamelanders
Organização domina início do cenário competitivo do VALORANT brasileiro e fecha ano com título do First Strike
"Ninguém vai tirar essa da gente!"
Entre gritos de comemoração, desabafos e expressões de puro êxtase - com alguns "palavrões", é verdade, essa foi a frase que marcou a classificação da Gamelanders à grande final do First Strike, primeiro campeonato de VALORANT organizado pela Riot Games no Brasil. A vitória sobre a B4, àquela altura, selou a sétima decisão alcançada pela line up nos primeiros meses do cenário competitivo nacional do FPS. Em meio aos cinco jogadores e ao técnico, abraçados em círculo, o decreto foi dado: ninguém tiraria aquele troféu, o mais importante de todos, de quem já havia vencido todas as seis finais que disputou. E, de fato, não tiraram.
Duas edições da Copa Rakin. Gamers Club Ultimate #1. AORUS League. EVOlution Open. Copa brMalls. E o mais importante: o First Strike. Leonardo "mwzera". Walney "Jonn". Jonathan "JhoW". Guilherme "Nyang". Fernando "fznnn". Todos sob o comando de Felipe "Katraka". Um grupo que precisou de poucos meses para ganhar os holofotes e chamar para si todo o simbolismo e tradição do Brasil nos jogos de tiro em primeira pessoa. O sinal de sete, feito por todos os as mãos espalmadas, é o recado: se deixou chegar na final, o destino se repete.
Chega a ser curioso observar como as duas pontas do First Strike se uniram de maneira simétrica para a Gamelanders. Na qualificatória fechada, a organização começou sua campanha com uma assustadora derrota por 13 a 2 para a Orgless no mapa da Split. A resposta e a virada se concretizaram na Haven e na Bind. Contra a Galaxy Carrots, um recado que se repetiria ao longo do evento principal: muita calma sob desvantagem, inteligência para virar o jogo, e triunfo por 2 a 0, em dois mapas apertados. O palco estava garantido, e a organização só voltaria a perder um mapa na final - vencida por 3 a 1.
No evento presencial, acompanhar de perto aqueles que eram considerados os favoritos a levantar a taça foi curioso. Sem qualquer juízo de valor, uma vez que cada equipe e cada elenco reagem de uma forma tanto à vitória quanto à derrota, a Gamelanders não puxava para si o perfil "quente" proporcionado por um palco com os dois times posicionados frente a frente. Pelo contrário: dentro de suas particularidades, puxava para dentro de si os próprios ânimos, acertos e erros. Era a maturidade personificada.
A energia de mwzera, expressada a cada round vencido, se equilibrava com a calma de Nyang - chamado carinhosamente de "Palestrinha", pela alta qualidade das entrevistas concedidas após os jogos. O MVP, que despertou atenção inclusive em âmbito internacional, mostrou uma energia capaz de mover sua equipe e provar que, mesmo dentro de um perfil coletivo mais frio e calculista, é possível expressar emoção quando isso se faz necessário na lógica do jogo.
- Vamos com mais confiança para o ano que vem. O First Strike foi o maior campeonato de VALORANT do Brasil até agora. A confiança só aumenta. A vontade de vencer só aumenta - afirmou o jogador.
Às duas personalidades já citadas, aliaram-se os estilos estratégicos de Jonn e JhoW e a mira extremamente afiada de fznnn. Ao longo dos quatro dias de evento, ouvir de perto a comunicação das equipes mostrou muito sobre o encaixe de diferentes perfis dentro de um contexto maior. No caso da Gamelanders, mostrou um time que parecia entender quando era a hora adequada de cada reação: apoio, cobrança, vibração...
A maior curiosidade é: ao contrário da maior parte das equipes do FPS, eles não contam com um líder específico, responsável por chamar as jogadas. A tarefa é dividida e, ao contrário do que se pode imaginar, a comunicação é mais "limpa" e bem planejada do que casos onde há um nome destacado para essa função. Especialmente quando o adversário "acusa o golpe".
- Esse cara aqui do meu lado (JhoW) e eu temos anos de experiência, acumulamos isso durante campeonatos. Viemos de derrotas na vida, não foram só vitórias. Nós sabemos ler quando as pessoas estão eufóricas, se perdendo dentro do jogo. Taticamente, lemos isso, e todo mundo tem seu palpite. É por isso que não tem capitão aqui, todo mundo pode falar - afirmou Jonn.
Perdi as contas de, quantas vezes, em situações de vantagem extrema em determinados rounds, como quatro jogadores contra um, os players da Gamelanders disseram: "0 a 0, rapaziada" ou "Não tem nada ganho, foco até o fim". Também alguns: "Não empolga, não!". Em momentos de clutches perdidos, o que vinha era o apoio de um companheiro: "Relaxa, você é bom pra c..." ou "Vamos buscar agora". Nunca houve desequilíbrio.
A confiança dos jogadores, uns para com os outros, foi algo incrível de vivenciar. É óbvio que vacilos, de posicionamento ou mira, ocorriam. Que algumas estratégias não davam certo. Porém, a equipe parecia sempre ter a resposta na ponta dos dedos. E o equilíbrio entre a autoconfiança e a humildade nunca foi abalado.
O profissionalismo não é mera coincidência. Do lado de fora, um técnico vindo de uma modalidade tradicional do esporte conduziu de maneira exemplar a equipe. Conselheiro do São Bento, clube de futebol da cidade de Sorocaba, no interior Paulista, por mais de nove anos, Katraka, especialista em gestão esportiva, abriu mão da estabilidade da própria carreira por um desafio à frente da Gamelanders. Moldou boa parte do que é o perfil do time hoje.
Embora tenha confirmado o favoritismo dentro do servidor, a equipe passou por um momento específico de tensão na grande final. A derrota por 15 a 13 no mapa da Ascent, que selou o empate da paiN Gaming àquela altura, mostrou uma Gamelanders que desviou um pouco do próprio perfil e, brevemente, sentiu o nervosismo. Com a mesma rapidez, voltou aos trilhos para fechar na Icebox e na Split. Um gerenciamento de crise instantâneo.
- Mesmo quando os erros apareceram e começamos a nos exaltar no segundo mapa da final, bastou uma conversa, bastou uma palavra, bastou o olho no olho para lembrarmos qual é o nosso estilo de jogo. Não precisamos gritar, não é esse o nosso jogo - afirmou Katraka, em declaração após o triunfo.
Tal qual protagonistas de uma grande obra artística, que no dia do espetáculo nada fazem além de exibir com maestria o que já foi feito nos ensaios, a Gamelanders entregou ao público brasileiro de VALORANT um show à altura do que já havia mostrado anteriormente. Acreditem: a calma exibida nos rounds de comunicação aberta da equipe ao longo do First Strike é uma constante de impressionante regularidade.
O domínio da Gamelanders no First Strike e sua soberania nos primeiros passos do cenário competitivo nacional são elementos que não só colocam o Brasil nos holofotes do VALORANT perante o mundo, como aumentam o estímulo para que outras equipes tão talentosas quanto busquem o mesmo objetivo. Embora clichê, é verdadeiro: bem mais complicado do que chegar ao topo é se manter lá. E a organização tem consciência disso.
- Ganhar o maior evento do ano, ainda mais presencial, nesse estúdio, com toda essa preparação, é uma sensação que, apesar de já termos passado várias vezes, vai ficar marcado. É o começo da nossa nova história. Quando você quer ser campeão, você se dedica e abdica de várias coisas. Nosso maior objetivo é ser campeão mundial de VALORANT agora - afirmou Nyang.
Foram 18 eventos do First Strike ao redor do mundo. Brasil. América do Norte. Europa. Coreia do Sul. Norte da África. Oriente Médio. Comunidade dos Estados Independentes. Turquia. Japão. Oceania. América Latina: Norte e Sul. Malásia e Singapura. Tailândia. Indonésia. Líbano e Egito. Filipinas. Hong Kong e Taiwan. Foi o primeiro passo do cenário competitivo, que se concretizará com o VALORANT Champions Tour na próxima temporada.
O Brasil terá duas vagas garantidas no Champions, o mundial do game, já na próxima temporada. Entre Challengers e Masters, veremos equipes se provando, crescendo e cravando seus nomes na história do VALORANT. Independentemente de quem sejam as equipes brasileiras no nível mais alto do jogo no planeta, que o nosso grito também seja ao final de 2021: "Ninguém vai tirar essa da gente!".
Entre gritos de comemoração, desabafos e expressões de puro êxtase - com alguns "palavrões", é verdade, essa foi a frase que marcou a classificação da Gamelanders à grande final do First Strike, primeiro campeonato de VALORANT organizado pela Riot Games no Brasil. A vitória sobre a B4, àquela altura, selou a sétima decisão alcançada pela line up nos primeiros meses do cenário competitivo nacional do FPS. Em meio aos cinco jogadores e ao técnico, abraçados em círculo, o decreto foi dado: ninguém tiraria aquele troféu, o mais importante de todos, de quem já havia vencido todas as seis finais que disputou. E, de fato, não tiraram.
Duas edições da Copa Rakin. Gamers Club Ultimate #1. AORUS League. EVOlution Open. Copa brMalls. E o mais importante: o First Strike. Leonardo "mwzera". Walney "Jonn". Jonathan "JhoW". Guilherme "Nyang". Fernando "fznnn". Todos sob o comando de Felipe "Katraka". Um grupo que precisou de poucos meses para ganhar os holofotes e chamar para si todo o simbolismo e tradição do Brasil nos jogos de tiro em primeira pessoa. O sinal de sete, feito por todos os as mãos espalmadas, é o recado: se deixou chegar na final, o destino se repete.
Chega a ser curioso observar como as duas pontas do First Strike se uniram de maneira simétrica para a Gamelanders. Na qualificatória fechada, a organização começou sua campanha com uma assustadora derrota por 13 a 2 para a Orgless no mapa da Split. A resposta e a virada se concretizaram na Haven e na Bind. Contra a Galaxy Carrots, um recado que se repetiria ao longo do evento principal: muita calma sob desvantagem, inteligência para virar o jogo, e triunfo por 2 a 0, em dois mapas apertados. O palco estava garantido, e a organização só voltaria a perder um mapa na final - vencida por 3 a 1.
No evento presencial, acompanhar de perto aqueles que eram considerados os favoritos a levantar a taça foi curioso. Sem qualquer juízo de valor, uma vez que cada equipe e cada elenco reagem de uma forma tanto à vitória quanto à derrota, a Gamelanders não puxava para si o perfil "quente" proporcionado por um palco com os dois times posicionados frente a frente. Pelo contrário: dentro de suas particularidades, puxava para dentro de si os próprios ânimos, acertos e erros. Era a maturidade personificada.
A energia de mwzera, expressada a cada round vencido, se equilibrava com a calma de Nyang - chamado carinhosamente de "Palestrinha", pela alta qualidade das entrevistas concedidas após os jogos. O MVP, que despertou atenção inclusive em âmbito internacional, mostrou uma energia capaz de mover sua equipe e provar que, mesmo dentro de um perfil coletivo mais frio e calculista, é possível expressar emoção quando isso se faz necessário na lógica do jogo.
- Vamos com mais confiança para o ano que vem. O First Strike foi o maior campeonato de VALORANT do Brasil até agora. A confiança só aumenta. A vontade de vencer só aumenta - afirmou o jogador.
Às duas personalidades já citadas, aliaram-se os estilos estratégicos de Jonn e JhoW e a mira extremamente afiada de fznnn. Ao longo dos quatro dias de evento, ouvir de perto a comunicação das equipes mostrou muito sobre o encaixe de diferentes perfis dentro de um contexto maior. No caso da Gamelanders, mostrou um time que parecia entender quando era a hora adequada de cada reação: apoio, cobrança, vibração...
A maior curiosidade é: ao contrário da maior parte das equipes do FPS, eles não contam com um líder específico, responsável por chamar as jogadas. A tarefa é dividida e, ao contrário do que se pode imaginar, a comunicação é mais "limpa" e bem planejada do que casos onde há um nome destacado para essa função. Especialmente quando o adversário "acusa o golpe".
- Esse cara aqui do meu lado (JhoW) e eu temos anos de experiência, acumulamos isso durante campeonatos. Viemos de derrotas na vida, não foram só vitórias. Nós sabemos ler quando as pessoas estão eufóricas, se perdendo dentro do jogo. Taticamente, lemos isso, e todo mundo tem seu palpite. É por isso que não tem capitão aqui, todo mundo pode falar - afirmou Jonn.
Perdi as contas de, quantas vezes, em situações de vantagem extrema em determinados rounds, como quatro jogadores contra um, os players da Gamelanders disseram: "0 a 0, rapaziada" ou "Não tem nada ganho, foco até o fim". Também alguns: "Não empolga, não!". Em momentos de clutches perdidos, o que vinha era o apoio de um companheiro: "Relaxa, você é bom pra c..." ou "Vamos buscar agora". Nunca houve desequilíbrio.
A confiança dos jogadores, uns para com os outros, foi algo incrível de vivenciar. É óbvio que vacilos, de posicionamento ou mira, ocorriam. Que algumas estratégias não davam certo. Porém, a equipe parecia sempre ter a resposta na ponta dos dedos. E o equilíbrio entre a autoconfiança e a humildade nunca foi abalado.
O profissionalismo não é mera coincidência. Do lado de fora, um técnico vindo de uma modalidade tradicional do esporte conduziu de maneira exemplar a equipe. Conselheiro do São Bento, clube de futebol da cidade de Sorocaba, no interior Paulista, por mais de nove anos, Katraka, especialista em gestão esportiva, abriu mão da estabilidade da própria carreira por um desafio à frente da Gamelanders. Moldou boa parte do que é o perfil do time hoje.
Embora tenha confirmado o favoritismo dentro do servidor, a equipe passou por um momento específico de tensão na grande final. A derrota por 15 a 13 no mapa da Ascent, que selou o empate da paiN Gaming àquela altura, mostrou uma Gamelanders que desviou um pouco do próprio perfil e, brevemente, sentiu o nervosismo. Com a mesma rapidez, voltou aos trilhos para fechar na Icebox e na Split. Um gerenciamento de crise instantâneo.
- Mesmo quando os erros apareceram e começamos a nos exaltar no segundo mapa da final, bastou uma conversa, bastou uma palavra, bastou o olho no olho para lembrarmos qual é o nosso estilo de jogo. Não precisamos gritar, não é esse o nosso jogo - afirmou Katraka, em declaração após o triunfo.
Tal qual protagonistas de uma grande obra artística, que no dia do espetáculo nada fazem além de exibir com maestria o que já foi feito nos ensaios, a Gamelanders entregou ao público brasileiro de VALORANT um show à altura do que já havia mostrado anteriormente. Acreditem: a calma exibida nos rounds de comunicação aberta da equipe ao longo do First Strike é uma constante de impressionante regularidade.
O domínio da Gamelanders no First Strike e sua soberania nos primeiros passos do cenário competitivo nacional são elementos que não só colocam o Brasil nos holofotes do VALORANT perante o mundo, como aumentam o estímulo para que outras equipes tão talentosas quanto busquem o mesmo objetivo. Embora clichê, é verdadeiro: bem mais complicado do que chegar ao topo é se manter lá. E a organização tem consciência disso.
- Ganhar o maior evento do ano, ainda mais presencial, nesse estúdio, com toda essa preparação, é uma sensação que, apesar de já termos passado várias vezes, vai ficar marcado. É o começo da nossa nova história. Quando você quer ser campeão, você se dedica e abdica de várias coisas. Nosso maior objetivo é ser campeão mundial de VALORANT agora - afirmou Nyang.
Foram 18 eventos do First Strike ao redor do mundo. Brasil. América do Norte. Europa. Coreia do Sul. Norte da África. Oriente Médio. Comunidade dos Estados Independentes. Turquia. Japão. Oceania. América Latina: Norte e Sul. Malásia e Singapura. Tailândia. Indonésia. Líbano e Egito. Filipinas. Hong Kong e Taiwan. Foi o primeiro passo do cenário competitivo, que se concretizará com o VALORANT Champions Tour na próxima temporada.
O Brasil terá duas vagas garantidas no Champions, o mundial do game, já na próxima temporada. Entre Challengers e Masters, veremos equipes se provando, crescendo e cravando seus nomes na história do VALORANT. Independentemente de quem sejam as equipes brasileiras no nível mais alto do jogo no planeta, que o nosso grito também seja ao final de 2021: "Ninguém vai tirar essa da gente!".